Síria: os líderes do meu tempo são uns "merdas"

Foto: AFP


Os líderes do meu tempo são uns “merdas”. Perdoem-me, caros ouvintes, a expressão, a linguagem indesculpável, mas o sentimento que por aqui lavra é, por demais, já difícil de se padecer de palavras simpáticas.

Mais uma vez falo da Síria, do massacre que, numa semana fez centenas de mortos, incluindo crianças, crianças que merecem paz, uma infância longa e feliz, um mundo sereno.

Porém, nas vésperas de se completarem sete anos desta guerra sangrenta e interminável, sinto, uma vez mais, que esta crónica foi feita em 2013, em 2014, em 2015, enfim, sabemos que nada mudou em 2018.

Não entendo como pode um homem chamado Bashar al-Assad,  sanguinário, há sete anos, continuar a torturar o seu próprio povo.

Não entendo como os líderes mundiais permitiram tudo isto, à frente dos nossos olhos, todos os dias, todas as noites.

Cada morte na Síria é um peso na minha consciência e será um peso em cima de cada cidadão do mundo.

Não aguentamos mais a apatia do mundo, dos poderes que podem mas que apenas decidem tréguas em Conselhos de Segurança, para minimizar os danos no palco dos massacres.

Mas o que há para minimizar? Valas comuns com corpos que se decompõem a céu aberto, homens, mulheres e crianças a morrer de fome, feridos amputados sem anestesia, vales da morte que dificilmente renascerão.

É este o retrato da Síria. É isto que fizemos a este povo mais do mártir.

Já não consigo sentir. Sinto-me, em relação à Síria, uma espécie de nado morto, que não aguenta mais assistir a este Holocausto em direto, como hoje se torna bonito de ver nas redes sociais.

E chego a um ponto em que já não consigo perdoar a Humanidade. Porque a Humanidade do meu tempo está podre, contaminada por tudo quanto nada vale.

Que Deus, seja ele qual for, resgate as almas do massacrado povo sírio, que o Mundo, de forma consciente, deixou morrer às mãos de um assassino.

*Crónica de 26 de fevereiro de 2018, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR

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