Sinto-me miserável

Foto: Patrícia de Melo Moreia | AFP

Não devia hoje falar sobre a tragédia que aconteceu em Portugal este fim de semana. Mas sinto que preciso abordar o tema.

Em primeiro lugar porque há todo um país a chorar os seus mortos. O que aconteceu em Pedrógão Grande parece saído de um filme de terror.

As imagens, os sons do silêncio e o desespero de quem perdeu os seus fazem-nos sentir, à distância, miseráveis. Eu, confesso, sinto-me miserável. Como testemunha. Como impotente. 

É certo que muita coisa podia ter sido feita para aliviar o drama.

Contudo, o conjunto de fatores climáticos únicos e extremos que se encontraram ao final do dia de sábado, mudaram o percurso da história.

Em Abrantes viveu-se o mesmo fenómeno. Eu própria, durante duas horas, assisti a tudo.

Um céu negro que se formou lentamente, relâmpagos de terror e a formação de ventos muito fortes conduziram a momentos dramáticos e de reviravolta no incêndio de São Miguel do Rio Torto.

Isto mesmo comprovaram as autoridades. Das poucas certezas dadas, há uma que é inequívoca: as condições atmosféricas "atípicas" foram determinantes para a propagação rápida do incêndio em Pedrógão Grande.

Em Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos o desfecho foi, tristemente, outro. Não há dedos a apontar diretamente, porque esta foi uma luta desigual, ante uma Natureza enfurecida que venceu a batalha contra quem nada podia fazer.

Esta crónica é dedicada a todos os que perderam a vida nos trágicos incêndios deste fim de semana. Esta crónica é dedicada aos seus familiares e amigos com quem partilho a dor indescritível que vivem neste momento.

Que o futuro lhes reserve paz e muita coragem para enfrentarem a perda que lhes bateu à porta.

*Crónica de 19 de junho, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR

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