Missão Platónica - enfrentar uma dor do século XX em 2013.

Esta semana ganhei coragem e peguei numa obra que tinha comprado há menos de um mês e há muito a queria ter na mão. Dezembro é um mês duro para estas bandas há coisa de três anos a esta parte. Quem me conhece, sabe porquê. Memórias impossíveis de apagar, retratos de alguém que já não tenho mas que me acompanha todos os dias em cada pensamento, acto ou sorriso. Voltando ao início. Há dois dias enchi-me de coragem e peguei nas memórias de Erik Erlichson, contadas na primeira pessoa, e denunciando ao mundo a condição de judeu nas prisões e campos de morte nazis e soviéticos durante a dura guerra de 1939-1945. «Ao sabor do Paraíso», assim intitulou Erik, que recebeu tudo menos paraíso, sobretudo dos gulags estalinistas. É um retrato terrivelmente duro de sobrevivência ante o ódio nazi e soviético. Mas é também uma história de amor entre homens que partilhavam apenas o mesmo sangue judeu. 
Depois lembrei-me de uma música que me entrou na cabeça…tinha eu quinze anos. Chama-se «UnderThe Same Sun», tem o cunho de uma banda querida cá da casa (Scorpions) e que, pela história que lhe está agregada, irá acompanhar-me necessariamente ao longo das 248 páginas do Erik, que faleceu em 2003, em Nova Iorque. Sei que, tal como cantaram os Scorpions em «Under The Same Sun» […saw a mother she was praying for her son, bring him back, let him live, don't let him die. Do you ever ask yourself, Is there a Heaven in the sky…], Erik nos canta um grito raro, contado na primeira pessoa, e que nos mostra como a nossa vida, em pleno século XXI, é um verdadeiro Paraíso, mesmo sendo difícil à luz dos campos de concentração financeiros do momento. Eu e o Platonismo deixamos pois, com muito amor, a sugestão de uma obra que não pode ser lida à pressa, nem em qualquer momento e muito menos ao acaso. E é preciso muita coragem para a consumir…e não deixar que nos consuma de dor. Porque, no fundo, é de dor que falamos neste texto. Se chegarmos ao fim vivos [eu e o Platonismo] seremos seguramente sobreviventes de um tempo negro que consumiu uma Europa inteira.  

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